Jornadas não são lineares

February 14, 2021

Olá pessoal, tudo bem? Meu nome é Bernardo e vou contar um pouco da minha jornada. Espero que sirva de inspiração para alguém, assim como as histórias que ouvi aqui no grupo me inspiraram.

O início

Nasci no finalzinho da década de 80 em uma cidade chamada Patos de Minas. Com seus pouco mais de 100.000 habitantes e longe da capital, a internet era a única conexão com o “mundo lá fora”. Meu primeiro contato com computador, um modelo 486, foi por volta dos meus 7-8 anos de idade. Ele veio com alguns jogos instalados e a única forma de instalar outros jogos era através de um disquete de 1.44 MB.

Em 1997 chegou a internet e um mundo de possibilidades se abriu. Mas não o tempo todo como é hoje, apenas aos sábados depois das 14h até domingo à noite. Nessa época, eu apenas consumia conteúdo e nem passava pela minha cabeça que um dia eu poderia programar. No início dos anos 2000 surgiu o blogger, e a produção de conteúdo ficou mais acessível. Não precisava de nenhum conhecimento em programação para fazer o seu site, mas se você curtisse, poderia customizá-lo com scripts e alertas. Esse foi o meu primeiro contato com programação. Comecei lendo uma apostila de HTML e em pouco tempo copiava os scripts que encontrava em uns manuais online para customizar o meu blog.

Se não me falha a memória, em 2002 chegou a banda larga. A partir dali eu podia usar a internet nos dias de semana quando chegava do colégio, olha que luxo! (vale lembrar que nessa época celular era muito caro e não tinha internet) Eu passava horas conversando com meus amigos em um programa chamado MSN, jogava The Sims, Doom, Prince of Persia e lia uns artigos da Wikipedia sobre as missões da NASA.

Vestibular e o desvio de rota

Com o vestibular batendo na porta, precisei deixar o computador em segundo plano. Na época eu sabia que queria ser médico e que para conseguir uma vaga em uma universidade pública (pagar estava fora de cogitação), eu precisaria estudar bastante.

Em 2007, após dois anos, consegui uma vaga em uma universidade pública e mudei para o Rio de Janeiro. Eu já estava sem ler nada sobre programação e agora, na faculdade de medicina, com menos tempo ainda. Formei em 2012 e não sabia por qual caminho seguir.

E foi assim por 5 anos, sem saber por onde ir… Trabalhei em emergências, ambulâncias, CTI, em uma clínica de longa permanência e até no postinho médico do Rock In Rio. De curioso, somei as horas e foram 13.449 horas de plantão ao longo desses anos. Não digo isso para me gabar, mas para lembrar que carreira é uma construção e que as coisas não surgem da noite para o dia. É preciso dedicação.

Ao longo desses anos eu me perguntava: o que quero fazer para o resto da minha vida? Em 2018, finalmente escolhi estudar endocrinologia. Fiz a especialização em um hospital universitário e lá permaneci por 2 anos. Trabalhava de segunda a sexta nesse hospital (sem receber salário) e aos finais de semana fazia plantão de 24 horas para pagar os boletos. Tive que aprender na marra a ler rápido em inglês. Eram páginas e mais páginas de artigos científicos e guidelines. E a programação? Ainda lá na memória.

Isolamento e a redescoberta

Em fevereiro de 2020, aos 31 anos, terminei a especialização. Finalmente tudo estava resolvido, né?! Arrumei um emprego em uma clínica, subloquei um horário num consultório e em março de 2020 atendi o meu primeiro paciente. Agora eu já sabia o que faria pro rest… não, espera… O governo do estado do Rio de Janeiro decretou suspensão temporária de atividades presenciais para conter o avanço da pandemia… o restante da história todos vocês já conhecem.

Isolado, trabalhando de casa e com bastante tempo livre (depois de tantos anos de correria), recebi uma mensagem de uma paciente que gostaria de saber se o tratamento dela estava surtindo efeito. Ela possui um tumor benigno na hipófise e a cada tantos meses precisa repetir a ressonância magnética para acompanhar o crescimento do tumor. Para acompanhar o crescimento, precisamos calcular o volume do tumor no primeiro exame, calcular o volume do tumor no segundo exame e então comparar a diferença. Quando terminei de calcular manualmente pensei: que trabalheira! Não dá pra automatizar isso não?! É algo simples, mas que consome um tempo de consulta que poderia ser melhor empregado ouvindo o paciente, e não computando algo que o computador pode fazer mais rápido e com menor risco de erro.

Era abril de 2020, minha irmã e meu marido estavam estudando Python para aplicar em ciência de dados. Estimulado por eles, comecei os estudos pelo popular print(“hello, world”). Li uns artigos no Medium e dei uma espiada em uns tutoriais do YouTube. Nessas pesquisas, descobri um curso gratuito muito bacana chamado CS50, da Universidade de Harvard. Assisti à primeira aula e logo me vi estudando por horas seguidas aos sábados e domingos. Resgatei o HTML nas minhas memórias de 2004 e interessei por JavaScript, que na época eu achava que era a mesma coisa que Java.

Comecei copiando e colando código… tentava decifrar como fazer um input, um botão e como deixá-lo da cor que eu queria. E, claro, fiz a tal calculadora para calcular o volume tumoral! Quando cliquei em calcular e o resultado apareceu na tela, foi uma sensação incrível! Como eu queria que outras pessoas também usassem, descobri como hospedar a calculadora gratuitamente no Firebase e a batizei de EndoCalc.

Era junho de 2020 e minha irmã começou a participar do projeto. Nos três meses seguintes automatizamos algumas coisas que eu precisava no consultório. Divulguei para meus amigos e estes divulgaram para outros amigos até que um belo dia abri o aplicativo do Google Analytics e tinham 600 pessoas usando o site naquele instante! Pessoas que eu não conhecia, de cidades que eu nunca tinha ouvido falar, agora usavam a mesma ferramenta que me ajudava no meu dia a dia. Foi uma sensação muito legal, fiquei feliz demais!

Nos meses seguintes fizemos um total de 26 calculadoras; recebemos ótimos feedbacks. Em uma dessas, reduzimos o tempo que o médico demoraria para calcular a eficácia do emagrecimento após cirurgia bariátrica de 4 minutos para 12 segundos (eram muitos cálculos manuais). Passávamos horas em chamada de vídeo discutindo as ideias que surgiam e planejamos os próximos passos.

Surgiram muitas ideias boas, a vontade estava lá, estávamos muito motivados a continuar ajudando aquelas pessoas que agora eram nossos “usuários”! Masss… a vontade de fazer/aprender tudo ao mesmo tempo nos puxou para o vórtex desse buraco negro que é a tecnologia, e… Paralisamos! Dessa experiência veio uma grande lição (um tanto óbvia, mas que às vezes precisa ser vivida): “Não tente abraçar o mundo”.

O Grupo

Após alguns meses perdido, decidi procurar ajuda! Entrei timidamente no grupo OsProgramadores, só acompanhava as discussões como “ouvinte”. Nas caminhadas de casa para o trabalho e depois no caminho de volta eu ouvia as entrevistas para o Podcast - histórias incríveis que muito me inspiraram e me fizeram gostar cada vez mais dessa profissão. Comecei a pesquisar na internet os termos que eram mencionados até que surgiram dúvidas e comecei a perguntar também.

De tanto ouvir falar em Node, decidi experimentar. Fiz uma página simples que calculava o IMC e enviava os dados inseridos (Peso, Altura) e o calculado (IMC) para um banco de dados hospedado na nuvem (MongoDB Atlas). É uma ideia simples, mas para mim, foram muitas horas de estudos. Eu não fazia ideia de como era um backend, apanhei da documentação do Express.js e cada tutorial que eu lia ensinava a fazer a mesma coisa de um jeito diferente. Meu código era uma colcha de retalhos.

Após algum tempo batendo a cabeça, resolvi (finalmente) ouvir a voz da experiência e comecei a fazer os Desafios do site. Escolhi a linguagem Swift e comecei: Desafio 02 (beleza, feito), Desafio 03 (bacana, feito), Desafio 04 (legal d+, feito), Desafio 05 (eita, lascou). O algoritmo funcionava com poucos dados, mas na medida em que testava os pacotes maiores, ele terminaria após alguns milhares de anos… Nesse momento, percebi que precisava (e gostaria) de aprofundar os conhecimentos nessa área.

Em uma das discussões no grupo, o Marcelo Pinheiro comentou: “Todos somos iniciantes. Alguns iniciaram faz 35 anos ou mais. Nesta área você está em constante aprendizado. O importante é aprender e ir em frente”. Em resposta, o Mateus Mercer disse: “Todo dia uma msg nesse grupo que te inspira a continuar”. O Marcelo então sugeriu o grupo participar de um projeto para mostrar frases diferentes todos os dias. Dê uma olhada no resultado nesse link. Quer aprender a linguagem Go? Dê uma olhada no backend. Que tal fazer os desafios que o Product Owner propôs? Acompanhe por aqui o andamento do projeto.

Após muita pesquisa e incentivado pelas discussões no grupo, tomei a decisão de voltar à faculdade. Comecei a pesquisar o que encaixaria melhor na minha realidade. Qual curso fazer? Ciências da Computação? Engenharia da Computação? Engenharia de Software? Sistemas de Informação? À distância? Presencial? Pública? Particular? Fiz uma planilha de excel e comecei a análise. Pesquisei quais faculdades ofereciam os cursos, qual o preço, se conhecia alguém que fazia e se gostava, quais disciplinas constavam no currículo, como era a carga horária, etc. Por fim, após ponderar bastante, escolhi o curso Sistemas de Informação à distância da PUC Minas.

Faculdade

O curso é na modalidade EAD e faço parte da primeira turma nesse modelo. O curso utiliza a metodologia de aprendizado por Projetos e Microfundamentos. A turma é dividida em grupos de 6 pessoas e cada grupo desenvolve ao longo do semestre um projeto. No primeiro semestre o foco foi em desenvolvimento web. Tínhamos reuniões semanais com o professor mentor e fazíamos entregas graduais do projeto ao longo do semestre (igual acontece em boa parte das empresas de tecnologia hoje em dia, se não conhece, pesquise sobre Scrum e Kanban). Os microfundamentos são disciplinas sobre os temas que precisamos para realizar cada etapa do projeto, dentre eles: lógica de programação, algoritmos e abstração de dados, desenvolvimento web front-end. As aulas são assíncronas, o que é excelente no meu caso, já que trabalho durante o dia, e alguns dias à noite. No segundo período, o foco foi em banco de dados, modelagem de dados e mapeamento de processos.

Não é fácil conciliar a faculdade com trabalho. Tem dias que chego em casa exausto, mal consigo ler alguma coisa, só quero assistir algo no Netflix pra relaxar. Mas outros dias são mais tranquilos no trabalho e consigo estudar bem. Acabo dedicando ao curso à noite e aos finais de semana, sempre buscando um equilíbrio para não sair dos trilhos. (Se você mora com seus pais e não precisa trabalhar: aproveite! …é um privilégio e tanto!)

Hoje, após completar um ano do curso e prestes a começar o segundo ano letivo, posso dizer que estou muito feliz com a minha decisão. Aprendi coisas que nunca cogitei estudar, conheci pessoas muito bacanas, fui estimulado a desenvolver a minha carreira e a procurar oportunidades na área.

Com alguns erros e acertos, aprendi muita coisa nessa jornada. Se posso lhe dar algumas dicas:

  1. Procure ir na direção daquilo que você quer. (e tudo bem se no momento não puder)
  2. Agarre as oportunidades que surgirem no caminho que possam te conduzir até onde quer chegar.
  3. Não tente controlar o futuro.

Os caminhos são tantos! Escolha um e vá! Mas não se esqueça de algo muito importante: cuide da sua saúde e aproveite a jornada!

Jump

E esse sou eu (tentando) enfrentar o medo de altura.

Me chama lá no Twitter: https://twitter.com/campsber

Curso de Harvard (CS50): https://www.youtube.com/c/cs50

Podcast OsProgramadores: https://anchor.fm/osprogramadores

Quotes inspiracionais: https://bernardocamps.github.io/quotes/

Repositório do Quotes: https://github.com/bernardocamps/quotes

Backend do Quotes em Go: https://github.com/mpinheir/quotes-backend

Cursos da PUC Minas Virtual: https://www.pucminas.br/PucVirtual/Graduacao/Paginas/curso-listagem.aspx?local=7c032ce9-43f6-4571-b72e-674be76a5b62